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sábado, 16 de outubro de 2010

Internet é "polícia secreta do século 21", diz professor

ANDREA MURTA
DE WASHINGTON

Enquanto membros do Facebook discutem as minúcias sobre os controles de privacidade de seus perfis, inúmeros outros provedores de serviços on-line seguem silenciosamente construindo gigantescos dossiês sobre cada detalhe das ações de seus usuários na internet.
Para Eben Moglen, professor de Direito na Universidade Columbia (Nova York) e diretor do Centro Legal para Software Livre, essa tendência construiu uma "polícia secreta do século 21", que "não mata nem tortura", mas "têm mais dados do que agências de espionagem de regimes totalitários do passado".
Com vistas em direcionar publicidade, algumas empresas tornam os dados anônimos, outras não. Algumas arquivam dados por um mês, outras por anos a fio.
E muitas não tocam no assunto com os usuários. O Google admite manter arquivadas as buscas de números de IPs particulares; o Yahoo grava arquivos de seu serviço de messenger por até 60 dias, segundo o "Washington Post".
Moglen, que já foi designer de linguagem de programas na IBM, diz que é possível até prever quem terá um caso com quem apenas com base em arquivos do Facebook.
E alerta: "a diferença entre o que você pensa que está publicando e o que está de fato tornando público para quem sabe ler é muito grande".
FOLHA- Reclamam do Facebook, mas não somos nós que estamos nos expondo demais?
EBEN MOGLEN - Você pode ver a situação como algo que fazemos a nós mesmos ou como algo que estão fazendo conosco.
É perfeitamente razoável pensar que o capitalismo do século 21 se baseia na descoberta de uma nova matéria prima --a informação sobre nossas vidas privadas.
Essa matéria-prima se tornou importante quando o consumo ultrapassou a produção como fonte de riqueza. Tudo que pode ser usado para mudar o padrão de consumo muda o grosso da atividade econômica.
Vejamos o Google, gerenciador do Orkut. É uma entidade cuja função primária é a reorganização da publicidade. Se você sabe o que as pessoas buscam, pode definir sua publicidade por isso.
Além do que o consumidor busca, ferramentas como redes sociais sabem tudo sobre ele. O que pensou, sentiu, o que seus amigos estão pensando. Podem ler seu e-mail, ver quem conhece quem, o que as pessoas estão comprando, como seus contatos são influenciados por isso.
FOLHA - As redes sociais são tentativas deliberadas de espionar esses gostos?
MOGLEN - Estão no negócio de espionar pessoas.
A forma que encontraram de ganhar acesso à vida privada é oferecer páginas gratuitas e alguns aplicativos. Basicamente, oferecem algo que as pessoas poderiam fazer sozinhas, se tivessem um pouquinho mais de conhecimento, e em troca espionam.
É uma péssima troca para o usuário, que degenera a integridade da pessoa humana. É como viver num regime totalitário.
FOLHA - O Facebook argumenta que as pessoas estão se tornando mais interessadas em compartilhar suas vidas e eles estão só seguindo a tendência.
MOGLEN - Sim, é um ótimo argumento. É por isso que a "polícia secreta do século 21" não tortura nem executa, e sim oferece "doces". As pessoas estão mais dispostas a deixar suas personalidades serem degeneradas. É verdade. Nos ensinam a gostar disso.
FOLHA - Mas o Facebook usa todo esse poder que o sr. crê que ele tem?
MOGLEN -Quando eu digo que o Facebook é capaz de prever com quem você terá um caso, não é só modo de falar.
Em termos técnicos, o Facebook é simplesmente um grande banco de dados. Tudo no seu perfil e todas as suas ações estão gravadas. Se dissermos a esse banco de dados, "me dê o log [dado arquivado] de todas as pessoas que checaram um outro perfil mais de cem vezes hoje", teremos uma lista de pessoas obcecadas por alguém.
Ou posso pedir o log de todas as pessoas que compraram mais de 20 coisas em um dia. Posso ter qualquer resposta, e ninguém sabe quais perguntas estão sendo feitas, a não ser o próprio Facebook.
Mas o Facebook está longe de ser o único. A internet tem milhares de bancos dados ligando milhares de computadores no mundo inteiro. E a todo momento algum usuário esbarra em uma descoberta que pode ser feita em alguns desses bancos de dados.
É ilusão pensar que há diferença entre o que pode ser descoberto e o que é de fato descoberto. Toda pergunta que pode ser feita acaba sendo feita por alguém mais cedo ou mais tarde.
E os bancos de dados não são só indicativos de nosso presente, são indicativos de nosso futuro, por análise de padrões.
FOLHA - Mas de certa forma o Facebook é sobre exposição mesmo. Já o fato de o Google manter arquivadas buscas de IPs particulares é pouco conhecido. Não é mais perigoso?
MOGLEN - Pode ser, e [a discrição a respeito] reforça sentimentos da internet sobre anonimato.
Mas a internet não foi feita para ser usada anonimamente. Você diz que o Facebook é sobre exposição, mas a internet toda é sobre exposição. A diferença entre o que você pensa que está publicando e o que está de fato tornando público para quem sabe ler é na prática muito grande.
Praticamente todos os movimentos na rede estão arquivados em algum servidor externo, fora do controle do usuário.
O Facebook e o Google são apenas dois estilos de negócios americanos do século 21. São um exemplo da economia política da era digital, da forma como essa economia política age ao tentar congregar todo mundo em uma rede só.
Mas essa economia política nem está limitada a eles nem é caracterizada por eles.
FOLHA - Nessa perspectiva, ainda faz sentido a recente polêmica sobre a forma como o Facebook organiza seus controles de privacidade?
MOGLEN - Não. Esse é o menor dos detalhes. Toda essa discussão é um esforço desenhado para enrolar, para fazer parecer que algo está sendo feito a respeito.
Mas se olharmos para o quadro geral, a forma como são oferecidos os controles de privacidade no Facebook e similares é completamente irrelevante. O Google por exemplo não quer falar nem sobre esse assunto.
FOLHA - Por problema recente da AT&T, foi possível ver endereços de e-mails de novos usuários do iPad. Ficamos menos seguros a cada novo desenvolvimento tecnológico?
MOGLEN - Nossas vidas são cada vez mais gerenciadas por softwares. E não somos tão bons assim em softwares, não os testamos como devíamos. Praticamente todos acabam tendo falhas.
Num mundo cheio de softwares, falhas podem ferir. Veja os carros da Toyota que ficaram fora de controle em estradas.
O incidente com o iPad foi uma besteira que poderia facilmente ter sido prevenida. Por isso é preciso espalhar esse conhecimento e deixar que os programas sejam mais testados antes de serem comercializados.
FOLHA - Que consequências sociais a longo prazo podemos esperar dessas tendências?
MOGLEN - Na verdade, se evoluirmos bem na questão da vida privada, essa conexão de cérebros em uma rede só pode ser maravilhosa.
Pense em quantos gênios já desperdiçamos porque não alimentamos seus cérebros com conhecimento. A internet pode mudar imensamente a vida humana ao tornar o conhecimento público para quem quiser aprender.
A longo prazo acredito que essa será a tendência que prevalecerá. As pessoas eventualmente dirão um basta à forma como seus arquivos estão organizados na rede. Mas ainda teremos muito caos até chegar lá.

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